Estava pronta para escrever sobre o modismo dos bebês reborn — bonecas tão realistas que beiram o bizarro: peso de recém-nascido, veias pintadas com precisão cirúrgica e até cheirinho de talco. Adultos que não só compram, mas cuidam como se fossem bebês de verdade: embalam, levam ao pediatra, postam fotos nas redes sociais com legendas como “primeira papinha” ou “meu príncipe chegou”. Mãe de boneco. Pai de plástico. Família faz de conta.
Mas, ao invés de mergulhar nesse triste fenômeno, decidi compartilhar um momento genuíno vivido com meus filhos. Durante o almoço de domingo, comentei com meu filho, o Bruno, que havia gostado de saber que ele tinha voltado a tocar piano, especialmente por estar treinando uma música que adoro de Ennio Morricone, tema do filme Cinema Paradiso, um dos mais lindos que já vi. Sugeri que assistíssemos juntos ao filme no final do dia, e assim terminamos nosso domingo: Bruno e Mariana na cama, comigo e com o Márcio, emocionados com a história de Toto e Alfredo, que celebra a amizade, o amor pelo cinema e os laços que nos unem e nos transformam.
Como escreveu o poetinha Vinicius de Moraes: “Filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-los?”. Como sentir um afeto imensurável, acompanhar seu crescimento, emocionar-se com inúmeras primeiras vezes: primeiro banho, primeira palavra, primeiro passo, primeiro dia na escola? Como compartilhar momentos singelos, mas repletos de significado?
Em que ponto da história a sociedade começou a confundir afeto com consumo, filho com bonecos, vínculo com simulação? Não importa se o filho é biológico, adotivo ou até “bichológico” (termo usado para mães de pet), mas têm que ser de verdade e não um simulacro.
Talvez o mundo esteja mesmo em surto. E os bebês reborn sejam apenas o retrato melancólico de uma humanidade que, perdida de si, tenta se encontrar no reflexo de um olhar vazio.
Afinal, não há nada que substitua o calor de um abraço verdadeiro, o brilho nos olhos de um filho, o som de seu choro ou de sua risada. E isso, nenhuma boneca, por mais realista que seja, pode oferecer.